quinta-feira, 23 de junho de 2011

A NOVA LITERATURA MEDIÚNICA – por José Passini
“E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.” Paulo (I Co, 14: 29)
As palavras de Paulo – inegavelmente a maior autoridade em assuntos mediúnicos dos tempos apostólicos – deveriam servir de alerta àqueles que têm a responsabilidade da publicação de obras de
origem mediúnica.
A literatura mediúnica tem aumentado de maneira assustadora. Diariamente, aparecem novos médiuns, novos livros, alguns bem redigidos, se observados quanto ao aspecto gramatical, mas de conteúdo duvidoso se analisadas as revelações fantasiosas que iludem muitos novatos, ainda sem conhecimento doutrinário que lhes possibilite um exame criterioso daquilo que lêem.
Muitos desses livros se originam de Espíritos ardilosos que, de maneira sutil, se lançam no meio espírita como arautos de novas revelações capazes de encantarem leitores menos preparados, aqueles sem um lastro de conhecimento doutrinário que lhes possibilite um exame lúcido, capaz de os levar a conclusões esclarecedoras.
Muitas pessoas que conheceram recentemente a Doutrina, antes de estudarem Kardec, Léon Denis, Gabriel Delanne e outros autores conceituados; antes de lerem as obras de médiuns como Francisco Cândido Xavier, Yvonne A. Pereira, Divaldo Franco, José Raul Teixeira, estão se deparando com obras fantasiosas, escritas em linguagem vulgar, contendo o que pretendem seus autores – encarnados e desencarnados – sejam novas revelações.
Bezerra de Menezes, Emmanuel, André Luiz, Meimei, Manoel Philomeno de Miranda, Joanna de Ângelis e tantos outros Espíritos se tornaram conhecidos e respeitados pelo conteúdo sério, objetivo, seguro, esclarecedor de suas obras, sempre redigidas em linguagem nobre. Esses Espíritos conquistaram, pouco a pouco, o respeito, a credibilidade e a admiração do público espírita pelo conteúdo de seus
escritos, na forma de mensagens ou de livros, publicados espaçadamente, como que dando tempo a um estudo sereno e criterioso do seu conteúdo.
Nos dias que correm, infelizmente, o quadro se modificou. Muitos médiuns, valendo-se de nomes já conhecidos pelo valor de suas obras, tentam impor-se aos leitores espíritas, não pelo valor das mensagens em si, mas escorados em nomes respeitáveis.
Sabendo-se que nomes pouco importam aos Espíritos esclarecidos, é de se perguntar por que os benfeitores que se notabilizaram através de Francisco Cândido Xavier haveriam de continuar usando seus nomes em mensagens transmitidas através de outros médiuns? Se o importante é servir à causa do
Bem, por que essa continuidade na identificação, tão pessoal, tão terrena? Não seria mais consentâneo com a impessoalidade do trabalho dos Servidores do Bem deixar que o valor intrínseco da mensagem se revele, sem estar escorado num nome conhecido? Por que não deixar que a mensagem se imponha pelo valor de seu conteúdo? Por que escudar-se em nomes respeitáveis, quando o texto não resiste a uma comparação, até mesmo superficial, de conteúdo e, às vezes, até mesmo de forma?
Por que essa ânsia insofreável de publicar tudo o que se recebe – ou que se imagina ter recebido – dos Espíritos? Onde o critério, a sobriedade tantas vezes recomendada na obra de Kardec? Será que o
público espírita já leu, estudou, analisou, entendeu toda a produção mediúnica produzida até agora?
Ao dizer isso não se está afirmando que a fase de produção mediúnica está encerrada. Sabe-se
que a Doutrina é dinâmica, que a revelação é progressiva. Progressiva, e não regressiva, pois há obras
que estão muito abaixo daquilo que se publicou até hoje, para não dizer que há aquelas que nunca deveriam estar sendo publicadas.
Infelizmente, os periódicos espíritas, de modo geral, não publicam análises dessas obras que estão sendo comercializadas, ostentando indevidamente o nome da Doutrina.
Impera, no meio espírita, um sentimento de falsa caridade, um pieguismo mesmo, que impede se analise uma obra diante do público. Essas atitudes é que encorajam médiuns ávidos de notoriedade à publicação dessa verdadeira avalancha de obras, que vão desde aquelas discutíveis a outras verdadeiramente reprováveis.
Nesse particular, é justo se chame a atenção dos dirigentes de núcleos espíritas, sejam centros, sejam livrarias, a fim de que avaliem a responsabilidade que lhes cabe quanto ao que é dado a público em nome do Espiritismo. O dirigente – ou o grupo responsável pela direção de uma casa espírita – responderá perante o Alto, sem a menor dúvida, pela fidelidade aos princípios doutrinários de tudo o que se divulga em nome do Espiritismo, seja na exposição oral, num livro ou simplesmente num folheto. O mesmo se diga relativamente àqueles responsáveis pelas associações intituladas “clube do livro”.
José Passini é escritor e estudioso da Doutrina Espírita. Escreve nesta coluna como colaborador.


DIVALDO FRANCO E O PADRE


Certa vez, fui a um padre confessar (antes de tornar-me espírita). Contei-lhe sobre minhas comunicações com os mortos. Para ele, eram forças demoníacas tentando me afastar da Igreja. Veio-me uma mágoa de Deus e comecei a questionar:
Vencendo a paciência do demônio
- Sou um bom católico, bom sacristão, adoro a Igreja, faço jejum, passo a semana da Páscoa sem comer até o meio-dia. Se Deus não pode com o diabo, eu vou aguentar? O diabo vai me vencer. Como um garoto de 17 anos, do interior, ingênuo, pode vencer o diabo se nem Deus consegue?
Entrei em depressão e fiquei com mágoa de Deus. Confessei-me ao padre:
- Eu vou me matar. Nossa Senhora do Carmo vai ter pena de mim, vai me colocar o escapulário e me tirar do inferno.
Ele me olhou demoradamente e respondeu:
- Não tome nenhuma atitude agora. O demônio às vezes nos perturba para testar a nossa fé; quando não consegue, abandona. (item 249 O Livro dos Médiuns – cansar a paciência dos espíritos, mostrando-nos mais pacientes do que eles)
Volte para a Igreja. Era um homem honesto, acreditava piamente em suas ideias.
A mãe do padre vem falar de Divaldo
Um dia, ao confessar-me a ele, vi aproximar-se um Espírito. Tive outro conflito:
- Como pode o diabo entrar na sacristia?
Aliás eu via sempre os Espíritos. No momento da eucaristia a hóstia tornava-se luminosa quando colocada na minha boca. Às vezes, em Feira de Santana, via o cônego Mário Pessoa aureolado. No meu entendimento (católico), ele era um santo. As pessoas na hora da fé se iluminavam e eu julgava tudo alucinação.
Quando o Espírito entrou, exclamei:
- Olha, o diabo está vindo, e é mulher!
- Você vê algum sinal particular no rosto dela? - indagou-me o padre.
- Vejo uma verruga acima do lábio.
- E o que mais?
- O cabelo está partido ao meio, penteado com um coque atrás.
- E o que mais?

- Vejo um xale sobre os ombros, com pontas, um xale negro de xadrez.
- Pode ficar tranquilo, é mamãe.
Ela "incorporou" e conversou com o padre. Quando despertei, ele me esclareceu:
- Divaldo, mamãe veio me alertar. A sua missão não é aqui, vá seguir a tarefa que Deus lhe confiou, porque o bem está em todo lugar.
Fiquei mais tumultuado, porque eu não era espírita, tinha medo, sentia-me de certo modo alijado da Igreja, mas continuava a frequentá-la e ao Centro Espírita.
O suicídio da irmã de Divaldo
Tinha conflitos de fé, principalmente quando morreu minha irmã, por suicídio. Mamãe foi encomendar missa a esse mesmo sacerdote, um homem bom, e ouviu dele:
- Dona Ana, não posso celebrar, porque o suicida está no inferno e Deus não o tira de lá.
Foi quando aprendi a primeira lição de lógica e de psiquiatria, com uma mulher iletrada - a minha mãe:
- Padre, então eu renego o seu Deus. Se Ele não é capaz de perdoar não é digno de ser Deus. Sou lavadeira modesta e analfabeta, mas a filha que perdi, eu a perdoo; como é que Deus, que a tem, não a perdoa? Digo mais, quem se mata não está no seu juízo.