Faz pouco mais de um
ano que o confrade José Raul Teixeira sofreu um AVC e parece-me justo render uma
homenagem a este valoroso trabalhador da doutrina espírita.
Fiquei pensando em como
sintetizar a vida notável do amigo e confrade Raul Teixeira, e felizmente
encontrei um texto recente de excelente qualidade, de autoria de Maria Helena
Marcon, que foi publicado no jornal Mundo Espírita de agosto de 2012, em
razão da homenagem prestada pela Federação Espírita do Paraná, de forma que tomo
a liberdade de reproduzir esse texto, e, na sequência, acrescentarei outras
informações sobre Raul Teixeira.
“Ele nasceu em
Niterói-RJ, e sua trajetória de servidor do Cristo cedo se iniciou. Desde o dia
em que adentrou a Mocidade Espírita do Grupo Espírita Leôncio de
Albuquerque, a convite do amigo José Luiz Vilaça e, por insistência da mãe
daquele, não mais parou.
Era o dia 8 de abril de
1967, e Raul Teixeira tinha dezessete anos. A inspirada coordenadora da
Mocidade, Cecília Einstoss, lhe fez uma pergunta a respeito da temática do dia:
o grande legislador hebreu.
Raul, apaixonado que
era pelo personagem, discorreu por uns vinte minutos a respeito. Iniciava ali a
sua jornada de bênçãos.
A oratória logo se
lhe desenvolveu e começaram as viagens, os convites, tantos que a agenda não
mais comportava, sendo passados de um a outro ano.
Estudioso, fez da
Codificação Espírita seu alicerce para a palavra e a escrita.
Desenvolvendo-se-lhe a psicografia, esperou, paciente, a ordem espiritual para a
publicação do seu primeiro livro, que foi editado em 1990. Um livro dedicado ao
jovem, escrito por um jovem desencarnado, através de um jovem médium: Cântico da Juventude, de Ivan
Albuquerque.
Hoje, as suas obras
mediúnicas somam quase quatro dezenas, portando orientações para a madureza, os
médiuns, os trabalhadores do Movimento Espírita, os jovens, a criança, o homem
em geral, o cidadão.
Prosa, verso,
assuntos diversos desfilam, reproduzindo o pensamento de Espíritos, como o
benfeitor espiritual Camilo, Sebastião Lasneau, Thereza de Brito, Levy, Ivan de
Albuquerque, Joanes, Francisco de Paula Vítor, Rosângela Costa Lima, Hans Swigg,
José Lopes Neto, e sua própria mãe, desencarnada quando ele era menino, Benedita
Maria.
“Sou
um homem no mundo”, apenas isso, diz Raul
Uma particularidade tem a
mediunidade de Raul: receber mensagens de Espíritos quase esquecidos do
Movimento Espírita do Brasil e do Mundo, mas que foram e continuam sendo grandes
trabalhadores. Raul os detecta e lhes traz as orientações, firmando-as no papel,
em abençoado trabalho psicográfico.
Alguns desses registros,
ocorridos ao ensejo das reuniões do Conselho Federativo Nacional, em Brasília,
em mais de uma oportunidade, emocionaram profundamente os que haviam tido a
ventura de conviver com uma ou outra daquelas personalidades. E, então, teciam
comentários a respeito do seu papel frente às lides espíritas, devotadas ao
trabalho do Bem.
Raul é bastante
reservado quando se trata de seus dados biográficos ou de lhe render homenagens.
Um tanto difícil, quase, conseguir-lhe algumas informações.
Quero apenas ser um amigo das pessoas e ficaria
muito feliz se me vissem assim – disse certa vez a Cezar Said. E, logo adiante,
definiu-se: Sou um homem no mundo e
não pretendo outra coisa senão isso, continuar a ser um homem no
mundo.
E assim é. Consciente
do trabalho que realiza, há quarenta e cinco anos, fala a respeito dele sem
falsa modéstia: trabalhador consciente do seu valor de divulgação e vivência dos
postulados da Doutrina Espírita. Mas, quem possa ter a ventura de privar de
alguns momentos a mais, com ele, logo verificará que não é alguém que somente
fala a respeito de Espiritismo.
Comenta as notícias
dos jornais quando tem tempo de
lê-los, fala da MPB e da sua querida Elis Regina, das coisas dos trabalhos
acadêmicos, de cinema, literatura, cultura geral, da sua família, da nossa,
rindo das coisas risíveis, agindo, vivendo e se relacionando como qualquer
mortal, ou melhor, “imortal”. (Raul, um homem no mundo, Cezar Braga Said, ed.
Fráter.)
Raul estreitou laços
com Yvonne do Amaral Pereira, com o médium Júlio Cezar Grandi Ribeiro, Francisco
Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco. Nesses dois últimos, em especial,
buscou, mais de uma vez, no início das suas atividades, orientações para o
direcionamento seguro das suas faculdades.
Em 1980, fundou
a Sociedade Espírita
Fraternidade, em Niterói, e, alargando os horizontes do atendimento aos
necessitados, o Remanso
Fraterno, na Várzea das Moças, bairro situado cerca de 25 km do centro de
Niterói.
Há pouco
mais de um ano, o grande testemunho
No mês de abril de 1986,
em Mirassol d´Oeste, no Mato Grosso, Raul sofreu um acidente, no qual lhe foi
revelado deveria ter perdido a vida. Contudo, por intercessão de sua mãe e de
outros Benfeitores Espirituais, ele foi informado de que prosseguiria na carne,
no trabalho a que se vinha devotando. Era a sua moratória.
Vinte e cinco anos
passados, em 14 de novembro de 2011, Raul é convidado a outro grande testemunho
(o texto original indicava a data de 16 de novembro, mas o próprio Raul afirmou
que o AVC ocorreu de 14 para 15 de novembro – nota do autor). Em viagem
internacional, com destino aos Estados Unidos, ainda em voo (quando sobrevoava o
Brasil – nota do autor), ele sofre um Acidente Vascular Cerebral (AVC) que lhe
afeta a fala e o movimento do braço direito (Raul também acrescentou que ficou
consciente, no avião, após o AVC, por sugestão do benfeitor Camilo, que lhe
inspirava calma e paciência, pois se adormecesse poderia entrar em coma - Nota
do autor.)
Ao chegar ao
aeroporto JFK, em Nova Iorque, foi levado ao Jamaica Hospital Medical
Center, próximo ao aeroporto, ali iniciando seu longo tratamento, tendo
sido depois transferido, na sexta-feira (18 de novembro), para Hospital
especializado no Estado de Connecticut.
Posteriormente, no
final de semana de 17/18 de dezembro, retornou ao Brasil, indo direto para São
Paulo, para prosseguir seu tratamento no Hospital Albert Einstein. Seu
tratamento prossegue até os dias atuais, agora em sua cidade, Niterói. As mais
recentes notícias nos informam que seu tratamento evolui muito bem. A
fisioterapia é diária, e, a fonoaudiologia, três vezes por semana. A fala
continua progredindo, de maneira animadora. O neurologista já identifica
significativa melhoria nos movimentos do braço e da mão direita.
Por ora, sua rotina
diária está concentrada no tratamento. Raul tem recebido convites para estar
presente em várias homenagens que os confrades muito carinhosamente lhe
oferecem, mas não tem condições de viajar e de interromper a rotina imposta pelo
tratamento, que o leva, inclusive, a necessitar de repouso físico e
mental.
Em todos esses meses,
as notícias dos companheiros que convivem mais de perto com ele ou os que, de
longas distâncias, se deslocam para visitá-lo têm sido no sentido de testificar
o seu testemunho de verdadeiro espírita: excelente estado de espírito, mantendo
seu habitual bom humor e jovialidade, a par de perseverança e dedicação ao
tratamento, fielmente seguindo as orientações médicas.
Raul
veio ao Paraná pela primeira vez em 1974
É a esse amigo que a
Federação Espírita do Paraná deseja prestar homenagens, mais uma vez. Grande é a
gratidão ao lhe recordar o quanto, particularmente, ofereceu ao Paraná
Espírita.
Veio ao Paraná, por
primeira vez, em 1974, mesmo ano em que o Espírito Camilo se lhe apresentou,
afirmando que, doravante, estaria coordenando as suas atividades. Quando, em
1990, na Capital, após dezenove anos de interrupção, ressurgem as
Confraternizações de Mocidades Espíritas, Raul é o coordenador da atividade, que
se desenvolveu de 13 a 15 de abril.
Com o tema, Juventude e Espiritismo, cerca de duzentos e cinquenta participantes
de todo o Estado integraram-se e se entregaram ao agradável evento. Foi o 1º Encontro Confraternativo de
Juventudes Espíritas do Paraná, com realização prevista a cada dois anos,
onde, em variadas oportunidades, Raul se fez presente.
Também com Raul
Teixeira, se deu o 1º Encontro
Estadual de Coordenadores de Juventudes Espíritas, nos dias 18 e 19 de março de 1995, em
seguimento ao planejamento da FEP de ação dirigida especificamente aos jovens
espíritas do Estado, prosseguindo a reprisar-se em todos os anos
ímpares.
Tal como Divaldo,
Raul esteve presente desde o 1º Simpósio Estadual de Espiritismo e a
1ª Conferência Estadual Espírita, acusando-se sua ausência, somente no ano
em curso, em face de seu problema de saúde.
Também foi figura
constante nos Encontros Estaduais
Espíritas do Interior, nos Encontros de Dirigentes Espíritas -
ENDESP e Encontro de Trabalhadores Espíritas -
ENTRADESP.
Quantas mães o
desejariam como filho, quantos jovens o almejariam como pai, quantos
desejaríamos poder desfrutar de sua presença um tanto mais, trabalhar ao seu
lado, na Seara Espírita. Mas o temos como o amigo e o conselheiro, o espírita
convicto e devotado, que está dando o seu testemunho, dia a dia.
Por tudo isso, pelo
que representa para os nossos corações, é que registramos a gratidão da
Federativa, em seu 110º aniversário de fundação e o preito de amizade dos
corações que o recordam, entre a saudade e o carinho de todas as horas,
desejando vê-lo recuperado, feliz, sorrindo, entre nós.”
Fidelidade
doutrinária sempre foi sua preocupação
Tive a feliz
oportunidade de desfrutar de muitos momentos com Raul Teixeira, acompanhando-o
em algumas palestras e quando ele se hospedava na casa de minha avó ou de meu
pai, ao realizar palestras na região de Itapetininga-SP.
Testemunhei a jovialidade
e a alegria exuberante de Raul, conforme citado no artigo acima, que chegava a
me contagiar. Nos momentos de descontração havia tempo para conversas variadas,
mas sem perder o equilíbrio e a sintonia com o bem.
A maior preocupação
de Raul sempre foi a fidelidade doutrinária, tanto na sua divulgação, quanto na
sua vivência. Inúmeras vezes ele externava sua preocupação com o desinteresse do
público espírita em estudar, por facilitar a distorção dos princípios
espíritas.
Assisti a inúmeras
palestras de Raul, quando ele tinha a oportunidade de convidar o espírita ao
estudo sério e profundo da codificação, bem como alertava-nos sobre a
necessidade da própria conduta refletir as diretrizes do evangelho e do
Espiritismo.
Gostaria, ainda, de
destacar, sob o meu ponto de vista, a principal importância de Raul Teixeira
para o movimento espírita, qual seja, a de não permitir que a pureza do conteúdo
espírita seja contaminada por ideias pessoais de confrades e Espíritos sem
compromisso com a verdade, “achismos” e modismos.
Por essa razão, os
livros de Raul Teixeira são um manancial de lucidez e apontamentos espíritas,
que merecem ser lidos e estudados.
Registro a forma
pedagógica e coerente utilizada pelo Espírito Camilo, que é o guia espiritual de
Raul, a nos facilitar sobremaneira o entendimento do tema abordado.
Quando interpelado ou
consultado, Raul Teixeira não desperdiçava a oportunidade de retificar qualquer
equívoco doutrinário ou de reforçar conceitos básicos do Espiritismo, sempre com
o objetivo de preservar os preceitos espíritas conforme exarados na codificação
de Allan Kardec.
Raul age dessa forma
por amor ao ideal. Se prestássemos mais atenção aos apontamentos de Raul,
certamente teríamos menos distorções na doutrina espírita, mas, infelizmente,
vemos inúmeras ideias e inovações que vão se incorporando ao Espiritismo,
algumas provenientes de obras mediúnicas de péssima qualidade, por isso e por
outros fatos entendo que Raul Teixeira, como orador, médium (mediunidade que
gerou mais de 30 livros) e cidadão, tem lugar de destaque no movimento
espírita.
Numa entrevista que
concedi a um confrade espírita, ao ser indagado sobre o que Raul Teixeira
representava na minha vida, não tive dúvida e afirmei: “É o meu anjo da guarda
encarnado”. Certamente, Raul Teixeira tem sido esse guia espiritual de muitas e
muitas pessoas, bem como é um “protetor da codificação espírita”, não medindo
esforços para preservar as verdades e a coerência da religião espírita.
Finalizo o artigo
externando minha estima e gratidão a esse amigo incomparável, que aprendi a
chamar de “Tio Raul”.
Nota
do Editor:
Clicando
neste link - http://www.youtube.com/watch?v=Oixtq2cMzhY
- o leitor poderá ver a emoção com que Raul Teixeira agradeceu a homenagem que
lhe foi prestada pela Federação Espírita do Paraná no dia 15 de novembro últim