terça-feira, 19 de setembro de 2017

Culpa e estados espirituais


Nosso Senhor Jesus Cristo ao dizer, em referência ao Espírito, “mas não sabes de onde vem nem para onde vai” (1), confirma a sua existência anterior e posterior ao corpo físico.
No tocante à sobrevivência após a morte do corpo físico, a referida tese é confirmada pelos Espíritos responsáveis pela implantação do Consolador na Terra, conforme prometido por Jesus (2):

“Em que se torna a alma logo após a morte?
– Volta a ser Espírito, ou seja, retorna ao mundo dos Espíritos, que havia deixado temporariamente”. (3)
Desta forma o Espírito, após o término do estágio na vida física, segue sua trajetória rumo à perfeição, carregando consigo, no íntimo da consciência, todos os resultados de suas ações na Terra.
O Benfeitor espiritual André Luiz fornece esclarecimentos a respeito da condição dos espíritos após o retorno ao Mundo Espiritual:

“Efetivamente, logo após a morte física, sofre a alma culpada minucioso processo de purgação, tanto mais produtivo quanto mais se lhe exteriorize a dor do arrependimento, e, apenas depois disso, consegue elevar-se a esferas de reconforto e reeducação. Se a moléstia experimentada na veste somática foi longa e difícil, abençoadas depurações terão sido feitas, pelo ensejo de autoexame, no qual as aflições suportadas com paciência lhe alteraram sensações e refundiram ideias. Todavia, se essa operação natural não foi possível no círculo carnal, mais se lhe agravam os remorsos, depois do túmulo, por recalcados na consciência, a aflorarem, todos eles, através de reflexão, renovando as imagens com que foram fixados na própria alma. Criminosos que mal ressarciram os débitos contraídos, instados pelo próprio arrependimento, plasmam, em torno de si mesmos, as cenas degradantes em que arruinaram a vida íntima, alimentando-as à custa dos próprios pensamentos desgovernados. Caluniadores que aniquilaram a felicidade alheia vivem pesadelos espantosos, regravando nas telas da memória os padecimentos das vítimas, como no dia em que as fizeram descer para o abismo da angústia, algemados ao pelourinho de obsidentes recordações. Tiranetes diversos volvem a sentir nos tecidos da própria alma os golpes que desferiram nos outros, e os viciados de toda sorte, quais os dipsômanos e morfinômanos, experimentam agoniada insatisfação, qual ocorre também aos desequilibrados do sexo, que acumulam na organização psicossomática as cargas magnéticas do instinto em desvario, pelas quais se localizam em plena alienação. As vítimas do remorso padecem, assim, por tempo correspondente às necessidades de reajuste, larga internação em zonas compatíveis com o estado espiritual que demonstram”. (4)

Por “zonas compatíveis com o estado espiritual que demonstram” devemos entender que os espíritos, no Mundo Espiritual, aglutinam-se por semelhança de estados de consciência, onde se somam os “infernos íntimos” individuais, que acabam por plasmar ambientes correspondentes às energias que os geraram e os sustentam. Daí resulta a ideia da existência de um inferno comum a todos os transviados, conforme as mais diversas e antigas crenças teológicas. Entretanto, esses estados, por mais longos que sejam, são transitórios, conforme aponta André Luiz ao afirmar “por tempo correspondente às necessidades de reajuste”, em evidente correspondência à justiça Divina.
Quem sofre, acaba por se arrepender da causa do sofrimento, e sempre será um necessitado de ajuda para sair da situação em que se colocou.

A esse respeito encontramos em O Livro dos Espíritos:
“A pessoa que não reconheceu suas faltas durante a vida sempre as reconhece depois da morte?
– Sim, sempre as reconhece, e então sofre mais, porque sente todo o mal que fez ou de que foi causa voluntária. Entretanto, o arrependimento nem sempre é imediato. Há Espíritos que teimam nas inclinações negativas, apesar dos seus sofrimentos; mas, cedo ou tarde, reconhecerão o caminho falso, e o arrependimento virá. É para esclarecê-los que trabalham os bons Espíritos, e vós também podeis trabalhar nesse sentido”. (5)

Nisso encontramos eco, lógica e consolo nas palavras do Senhor Jesus:
“Os sãos não têm necessidade de médico, mas os que estão doentes. Ide e aprendei o que significa: ‘Misericórdia quero, e não sacrifícios’. Pois não vim chamar justos, mas pecadores”. (6)

“Eu vos digo que, desse modo, haverá mais alegria no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos, que não têm necessidade de arrependimento”. (7)

Porém, o arrependimento por si só não libera o “pecador” da reparação dos erros cometidos, conforme nos esclarecem os Benfeitores Espirituais:
“A reparação ocorre na vida corporal ou na espiritual?
– A reparação ocorre durante a vida física pelas provas a que o Espírito é submetido, e na vida espiritual pelos sofrimentos morais ligados à inferioridade do Espírito”. (8)

Entenda-se, em novas reencarnações e nos estágios entre elas.

Pensemos nisso.
Antônio Carlos Navarro


Referências Bibliográficas:
(1) Novo Testamento, Haroldo Dutra dias, Jo 3:8;
(2) Novo Testamento, Haroldo Dutra dias, Jo 14:26;
(3) O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, item 149;
(4) Evolução em Dois Mundos, Francisco C. Xavier – André Luiz, cap.19;
(5) O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, item 994;
(6) Novo Testamento, Haroldo Dutra dias, Mt 9:12-13;
(7) Novo Testamento, Haroldo Dutra dias, Lc 15:7;
(8) O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, item 998

Desenvolvendo a Boa Vontade - Rita Foelker

 
Lázaro, o Espírito autor da comunicação intitulada “A afabilidade e a doçura” incluída por Kardec em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, começa dizendo que a benevolência para com os semelhantes é fruto do amor ao próximo, e que se manifesta na afabilidade e na doçura, desde que sejam sinceras, nascidas no coração, e não pinceladas como uma camada superficial de verniz.
 
Gostar das pessoas, aceitá-las e compreendê-las como são deve ser um dos desafios mais difíceis neste nosso momento evolutivo. Provavelmente por isso, pelo fato das pessoas serem como são e, não, como desejaríamos, é que nos tornamos tão irritadiços, rudes, mal humorados em certos momentos, vivendo o sentimento oposto àquele ao qual Lázaro nos convida.
 
Uma das causas freqüentes de nossa falta de boa vontade com algumas pessoas, inclusive muito próximas de nós, é nosso apego a idéias de como as coisas e as próprias pessoas deveriam ser.

 Temos um sonho a respeito de nossos pais, cônjuge ou filhos ideais, sobre como nossos colegas deviam nos tratar, sobre o carro que queríamos dirigir e a casa em que sonhamos morar, de modo que, quando o panorama geral de nossas vidas contém muito pouco ou nada do que planejamos, sentimo-nos praticamente no direito de sermos ruins, amargurados, deprimidos.
 
Não é raro que a vida esteja muito diferente do que programamos, mas não quer dizer que esta vida que temos não seja boa. Ninguém tem uma vida totalmente ruim, mesmo que difícil, e mais facilmente identificaríamos as bênçãos se parássemos de sofrer com nossos devaneios para encontrar a alegria da vida real.
 
No que se refere às pessoas, não existe um ser humano que não tenha uma qualidade. Pode ser uma que não vemos, porque estamos procurando aquela que melhor nos serviria, que mais se encaixaria no nosso sonho. Há pessoas que carregam pesados fardos de revolta toda uma existências, porque seus pais não foram o seu ideal de pais. E, ainda por cima, culpam estes pais por não terem sido como desejavam, o que é uma atitude comum.
 
Culpar o outro por não ser do jeito que eu quero é um absurdo, que nos faz descarregar nossas frustrações sobre ele e transformar a vida dele (que nada tem a ver com nossos delírios) numa vida horrorosa.
 
Seria muito mais fácil desenvolver boa-vontade nos relacionamentos, se não tivéssemos tantas projeções de paraísos ocupando nossa mente. Parar de criar fantasias, viver a realidade das pessoas e situações como elas são gera uma atitude íntima de aceitação e benevolência, sem cobranças nem frustrações, que nos faria grande bem.

Raciocine comigo: que vida é esta, a “vida boa” com que sonhamos? Um dia ouvi o Gasparetto dizer que ela é apenas um delírio, feito de fragmentos de vidas de pessoas que imagino que vivam bem, pessoas que parecem felizes e completas nos momentos em que as observávamos. Mas o que sabemos de fato sobre o todo, sobre o que acontece com elas nas vinte e quatro horas do dia? Sobre seus pensamentos, vontades, desafios, família, saúde, afetos?
 
O mais provável é que a vida com que sonhamos nem exista. Em vista disto, resta-nos a realidade. E quanto mais apagamos de nossas mentes a fantasia, maiores chances de descobrir elementos de prazer a alegria espalhados na vida real. E haverá mais afabilidade e doçura em nossas palavras e gestos, tornando a vida muitíssimo mais agradável. 
 
Autor: Rita Foelker