domingo, 9 de setembro de 2018

As Razões de Deus

AS RAZÕES DE DEUS     
Richard Simonetti
                            richardsimonetti@uol.com.br                                   
       
 
        Assim como os irracionais, o ser humano também tem uma programação básica que se manifesta na forma de instintos, a conduzi-lo pelos caminhos da vida. O instinto gregário, que lhe impõe a vida em sociedade. O instinto do acasalamento, que favorece a constituição da família. O instinto sexual, que sustenta a perpetuação da espécie. O instinto de conservação, que o estimula a lutar pela sobrevivência.
        Mas há no Homem, além dos instintos, algo que o distingue dos demais seres da criação – a inteligência, o pensamento contínuo, a capacidade de aprender, de acumular informações e tomar consciência de sua própria existência.
        Com semelhantes conquistas habilita-se a exercitar a razão, a avaliar situações e tomar decisões, desenvolvendo experiências a partir de suas próprias iniciativas nos domínios do livre-arbítrio.
        O problema é que o exercício da razão está subordinado à nossa compreensão, à maneira como vemos o Mundo. Um homem inteligente pode desenvolver ideias contraditórias, estribando-se em raciocínios convincentes.
        É bastante ilustrativo o exemplo de Emmanuel Kant, famoso filósofo alemão que, em seu ensaio a Crítica da Razão Pura suprimia a idéia de Deus. Acontece que Kant tinha um velho criado que era muito religioso e se comovia até as lágrimas por ver seu amo com ideias iconoclastas. O filósofo considerou:
        – O pobre homem não será feliz sem um deus; e as pessoas devem ser felizes neste mundo. O bom senso prático o exige.
        Então, em homenagem ao criado, escreveu a Crítica da Razão Prática, que reinstalava Deus no Universo.
        Lamente-se que Kant não tenha usado sua habilidade filosófica para escrever uma crítica da razão pervertida, demonstrando como sentimentos inferiores podem induzir o homem a seguir por tortuosos caminhos, em descaradas racionalizações.
        Para os romanos era de boa lógica torrar os cristãos na fogueira ou transformá-los em comida de leão. O Cristianismo incomodava. E unia-se o útil ao agradável. O povo precisava de diversão. Os cristãos eram instrumentos ideais. Não reagiam, morriam entoando cânticos de louvor. Um espetáculo magnífico.
        A revolução francesa, contrapondo-se ao absolutismo monárquico, pregava a liberdade, a igualdade e a fraternidade entre os homens, entronizando a deusa razão no lugar da religião. No entanto, revelando uma visão distorcida desses princípios, seus líderes mandavam para a guilhotina, sem nenhuma fraternidade, os que exercitavam a liberdade de criticar-lhes os desmandos. Diz Manon Roland, uma de suas vítimas: – Oh, liberdade, quantos crimes se cometem em teu nome!
        Em nome da razão, grupos ativistas e pensadores têm procurado justificar idéias que contrariam frontalmente elementares princípios da Lei Natural.
        Em nome da razão fala-se da legalização do aborto no Brasil. Argumenta-se que em nosso país são realizados perto de três milhões de abortos clandestinos, anualmente, por pessoas não habilitadas, sem condições de assepsia, sem higiene, sem cuidados essenciais, principalmente na classe pobre. Há sérios riscos para a mulher, envolvendo particularmente infecções que podem levar à morte.
        Em nome da razão muita gente defende a pena de morte. Afirma-se que a sociedade não deve assumir encargo de alimentar delinquentes e que sua morte serviria para inibir o comportamento criminoso.
        Em nome da razão há quem recomende a eutanásia. Seria um ato de misericórdia para pacientes terminais que estão sofrendo muito. Imperioso abreviar seus padecimentos.
        Enquanto a razão for exercitada a partir de uma visão estreita da existência humana, veremos as pessoas enveredando por tortuosas idéias fantasiadas de racionalidade.
        A grande contribuição que o Espiritismo nos oferece, neste particular, capaz de iluminar a razão, dando-nos condições para trilhar caminhos mais acertados, é a visão do Mundo Espiritual, com o conhecimento do inter-relacionamento entre Espíritos encarnados e desencarnados, e as consequências das ações humanas. Isso nos leva a uma imperiosa retificação de conceitos.
        O aborto é um assassinato intrauterino. O embrião não é uma promessa de vida, mas uma vida em desenvolvimento, com a presença de um Espírito iniciando a reencarnação. Não raro é alguém que veio para reajustes em relação à futura mãe e que, expulso do ventre materno, poderá se voltar contra ela, originando complexos quadros obsessivos. Além do mais a mulher que pratica o aborto provoca lesões em seu perispírito que mais cedo ou mais tarde se refletirão no corpo físico, originando disfunções variadas como esterilidade, infecções renitentes, tumores, frigidez...
        A pena de morte elimina o homem criminoso, mas também libera o criminoso espiritual, com a vantagem da invisibilidade. Ele passa a assediar pessoas com tendências ao crime, perpetuando a violência.
        A eutanásia, além de subtrair dores depuradoras, situa o paciente em posição de perplexidade e turvamento mental que retarda sua readaptação à vida espiritual.
        Com o Espiritismo superamos a visão estreita do homem perecível e atingimos a visão ampla do Espírito imortal, com o que iluminamos o entendimento para que nossas razões, no exercício da inteligência, sejam sempre as razões de Deus, no cumprimento de sua vontade soberana, edificando o futuro de bênçãos.
 

Espíritas contribuíram com a Pátria




Na “semana da Pátria”, homenageamos incalculável multidão de espíritas que contribuíram com a Pátria como cidadãos, a maioria anonimamente, em diversas formas de atuação. Mas cabe um destaque aos:

Vultos espíritas desencarnados com atuação na política

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

Como desdobramento de artigo que publicamos no jornal Dirigente espírita(1) elaboramos uma relação de alguns vultos, já desencarnados, que foram líderes políticos de projeção municipal, estadual e nacional, e mantiveram vinculação com ações espíritas. Evidentemente que não é completa, sendo mais voltada para o momento e o local da mesa redonda “Espiritismo e Política”(2):
Adolfo Bezerra de Menezes (1831-1900), como político atuou na Capital Imperial, deputado junto à Assembléia Nacional do Império, Presidente da Câmara de Vereadores acumulando o exercício do Poder Executivo Municipal do Rio de Janeiro; lutou pela emancipação dos escravos negros, através de projeto de lei, procurou regulamentar o trabalho doméstico, visando conceder a essa categoria, inclusive, o aviso prévio de 30 dias; denunciou os perigos da poluição; atuou em empresas governamentais; foi presidente da FEB em dois períodos, autor de livros espíritas.
Francisco Leite de Bittencourt Sampaio (1834-1895), como político atuou na Capital Imperial, deputado junto à Assembléia Nacional do Império, presidente da província do Espírito Santo; um dos fundadores do Partido Republicano; foi o primeiro diretor da Biblioteca Nacional em seguida à proclamação da República; um dos fundadores de centros espíritas pioneiros na cidade do Rio de Janeiro; autor de livro espírita e de letras de canções musicadas por Carlos Gomes.
Eurípedes Barsanulfo (1880-1918) foi vereador em Sacramento (MG), fundador do Colégio Allan Kardec, de centro e de farmácia; atuou como médium.
Guilherme Taylor March (1838-1922) foi vereador e Presidente da Câmara de Vereadores acumulando o exercício do Poder Executivo Municipal de Niterói (RJ); dedicou-se ao atendimento médico da população, especificamente com a prática da homeopatia, sendo chamado o “pai dos pobres”; era espírita declarado.
Aristídes de Souza Spínola (1850-1925), como político foi deputado provincial pela Bahia e depois atuou na Capital Imperial, deputado junto à Assembléia Nacional do Império; abolicionista; e com um mandato de deputado no período republicano; presidente da província de Goiás; foi presidente da FEB.
Cairbar de Souza Schutel (1868-1938) foi vereador e o primeiro prefeito de Matão (SP), no ano de 1898; fundou o Centro Espírita Amantes da Pobreza, o jornal O Clarim, a Revista Internacional de Espiritismo e é autor de vários livros. Em pleno período de exceção do governo Vargas insere-se na “Campanha Pró-Liberdade de Consciência” e na “Coligação Pró-Estado Leigo”.
Camilo Rodrigues Chaves (1884-1955) foi vereador, deputado e senador do antigo Congresso Mineiro (em Constituição antiga previa-se o sistema bicameral nos Estados); presidente da União Espírita Mineira e autor de livro espírita.
Romeu de Campos Vergal (1903-1980), originário da pioneira União da Mocidade Espírita de São Paulo, foi deputado junto à Assembléia Constituinte de São Paulo, deputado federal por várias legislaturas, lutou pelo projeto “O Petróleo é Nosso”, foi líder partidário na Câmara dos Deputados; atuou na União Federativa Espírita Paulista, na Liga Espírita do Estado de São Paulo, dirigente da Sociedade Rádio Piratininga-PRH-3, a qual lançava ao ar diariamente o "Programa Radiofônico Espírita Evangélico do Brasil", atuou em instituições espíritas de Serra Negra (SP); autor de livros espíritas.
Francisco Carlos de Castro Neves (1914-1974), deputado junto à Assembléia Constituinte de São Paulo; deputado federal; presidente da Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC); secretário de Governo do Estado de São Paulo e também ministro do Trabalho e Previdência Social, nas gestões de Jânio Quadros, como prefeito (1ª. gestão), governador e presidente da República; foi o 2º. presidente da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo (USE-SP).
Emílio Manso Vieira (1915-1978), foi vereador em São Paulo, foi ligado à União Federativa Espírita Paulista, à FEESP e à USE-SP; autor de livros espíritas.
Eurípedes de Castro (1920-1974). Em 3 de outubro de 1952, Eurípedes de Castro, representando a entidade União Evolucionista Cristã, se dirigiu a Pedro Leopoldo, Minas Gerais, com o objetivo de saber, por meio de Chico Xavier, a opinião de Emmanuel a respeito da participação dos espíritas na política, tendo recebido uma mensagem. Foi deputado estadual em São Paulo; ligado a centros e atuou no Conselho Deliberativo Estadual da USE-SP.
José de Freitas Nobre (1921-1990), vice-prefeito e vereador da cidade de São Paulo; deputado federal em várias legislaturas; na Câmara dos Deputados foi líder partidário e da oposição ao regime militar; um dos fundadores de centro espírita e do jornal Folha Espírita; apoiou a fundação da Associação Médico Espírita de São Paulo; amigo pessoal de Chico Xavier; coordenou a Comissão Pró-Indicação de Chico Xavier ao Prêmio Nobel da Paz, em 1981; autor de obras espíritas.
Jorge Cauhy Júnior (1924-2005), Deputado Distrital no Distrito Federal, fundador do Lar dos Velhinhos Maria Madalena, no Núcleo Bandeirante, em Brasília.
Alberto Calvo (1928-2013) foi vereador e deputado estadual em São Paulo; sub-prefeito do bairro Casa Verde; ligado a centros, entidades assistenciais, Rádio Boa Nova e à USE-SP.
Nossa gratidão pelo esforço e dedicação, e, homenagens aos vultos citados. Com certeza representam muitos outros cidadãos de várias partes do Brasil.
Citações:
1) Carvalho, Antonio Cesar Perri. O movimento espírita e a política. Dirigente espírita, USE-SP. Ano 28. N.166. P. 6. São Paulo, julho-agosto de 2018.
2) Texto apresentado durante a Mesa Redonda Espiritismo e Política, realizada na Câmara Municipal de São Paulo no dia 4 de agosto de 2018: http://grupochicoxavier.com.br/mesa-redonda-espiritismo-e-politica-...
(*) Ex-presidente da USE-SP e da FEB.
Transcrito de: Revista Internacional de Espiritismo. Ano XCIII. No. 8. Setembro de 2018. P.410-411.