O Tiradentes e seus derradeiros
momentos
Hoje, 21 de abril, dia em que foi
executado Tiradentes, é feriado nacional e, portanto, uma boa oportunidade para
dizer alguma coisa sobre aquele que é considerado mártir da Inconfidência
Mineira e patrono cívico do Brasil.
Joaquim José da Silva Xavier, seu
nome verdadeiro, nasceu em 1746 e morreu em 21 de abril de 1792, quando contava
45 anos de idade. Dentista, tropeiro, minerador, comerciante, militar e ativista
político, ele atuou no Brasil colonial, mais especificamente nas capitanias de
Minas Gerais e Rio de Janeiro. A cidade mineira de Tiradentes, antiga Vila de
São José do Rio das Mortes, foi assim renomeada em sua homenagem.
No livro Brasil, Coração do
Mundo, Pátria do Evangelho, de Humberto de Campos, psicografado por Chico
Xavier, seu autor descreve os fatos que se deram a partir do momento em que os
inconfidentes ouviram a sentença de sua condenação, incluindo o episódio da
morte e da desencarnação de Tiradentes, que adiante reproduzimos:
“Os historiadores falam do grande
pavor daqueles onze homens que se ajuntavam, andrajosos e desesperados, na sala
do Oratório, para ouvirem a sentença da sua condenação, após três longos anos de
separação, em que haviam ficado incomunicáveis nos diversos presídios da época.
A leitura da peça condenatória, pelo Desembargador Francisco Alves da Rocha,
levou quase duas horas. Depois de conhecerem os seus termos, os infelizes
conjurados passaram às mais dolorosas e recíprocas recriminações.
Os mais tristes quadros de
fraqueza moral se patenteavam naqueles corações desiludidos e desamparados; mas,
no dia seguinte, a dura sentença era modificada. D. Maria I havia comutado
anteriormente as penas de morte em perpétuo degredo nas desoladas regiões
africanas, com exceção do Tiradentes, que teria de morrer na forca,
conservando-se o cadáver insepulto e esquartejado, para escarmento de quantos
urdissem novas traições à coroa portuguesa.
O mártir da inconfidência, depois
de haver apreciado, angustiadamente, a defecção dos companheiros, reveste-se de
supremo heroísmo. Seu coração sente uma alegria sincera pela expiação cruel que
somente a ele fora reservada, já que seus irmãos de ideal continuariam na posse
do sagrado tesouro da vida. As falanges de Ismael lhe cercam a alma leal e
forte, inundando-a de santas consolações.
Tiradentes entrega o espírito a
Deus, nos suplícios da forca, a 21 de abril de 1792. Um arrepio de aflitiva
ansiedade percorre a multidão, no instante em que o seu corpo balança, pendente
das traves do cadafalso, no Campo da Lampadosa. Mas, nesse momento, Ismael
recebia em seus braços carinhosos e fraternais a alma edificada do
mártir.
— Irmão querido — exclama ele —
resgatas hoje os delitos cruéis que cometeste quando te ocupavas do nefando
mister de inquisidor, nos tempos passados. Redimiste o pretérito obscuro e
criminoso, com as lágrimas do teu sacrifício em favor da Pátria do Evangelho de
Jesus. Passarás a ser um símbolo para a posteridade, com o teu heroísmo
resignado nos sofrimentos purificadores. Qual novo gênio surges, para espargir
bênçãos sobre a terra do Cruzeiro, em todos os séculos do seu futuro.
Regozija-te no Senhor pelo desfecho dos teus sonhos de liberdade, porque cada um
será justiçado de acordo com as suas obras. Se o Brasil se aproxima da sua
maioridade como nação, ao influxo do amor divino, será o próprio Portugal quem
virá trazer, até ele, todos os elementos da sua emancipação política, sem o
êxito incerto das revoluções feitas à custa do sangue fraterno, para multiplicar
os órfãos e as viúvas na face sombria da Terra...
Um sulco luminoso desenhou-se nos
espaços, à passagem das gloriosas entidades que vieram acompanhar o espírito
iluminado do mártir, que não chegou a contemplar o hediondo espetáculo do
esquartejamento.
Daí a alguns dias, a piedosa
rainha portuguesa enlouquecia, ferida de morte na sua consciência pelos remorsos
pungentes que a dilaceravam e, consoante as profecias de Ismael, daí a alguns
anos era o próprio Portugal que vinha trazer, com D. João VI, a independência do
Brasil, sem o êxito incerto das revoluções fratricidas, cujos resultados
invariáveis são sempre a multiplicação dos sofrimentos das criaturas,
dilaceradas pelas provações e pelas dores, entre as pesadas sombras da vida
terrestre.”
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